quarta-feira, 23 de julho de 2008

Sobre amores distantes


Depois de um tempo, a gente entende que não há distância para aqueles que se amam, contrariando o que dizem a quilometragem, a diferença de fuso, o tanto de afastamento dos olhos.

Porque o olhar que importa é o olhar que ama, é o olhar que sente, é o olhar que abençoa, e esse olha de qualquer lugar.

A gente entende que estar perto do corpo não significa necessariamente estar no coração. Porque para se estar no coração é preciso mais do que a presença física de olhos, ouvidos, toque, pele, voz. Para se estar no coração, adivinhe só: é preciso amor.

E o amor é essa ponte que nos leva a qualquer destino de maneira instantânea.É a facilidade do encontro, a beleza dele, o riso dele, a intimidade que é descanso, a história dele toda, que criam e mantêm proximidade, não é o corpo.

O corpo é a casa querida e temporária, às vezes desejada, de quem a gente ama, mas não é quem a gente ama. E nós podemos estar longe da casa e desfrutar dos sentimentos que tudo o que ela abriga nos desperta, um jeito de estar lá. Sem poesia, um corpo não floresce diante do nosso olhar.

A primavera que reconhecemos numa outra vida tem a ver com a primavera que acontece em nós quando a nossa emoção, de alguma forma, a encontra. Parece mágico e é também. Mas é afeto, sobretudo.

É claro que quando se ama, a gente quer estar perto fisicamente. Poucas coisas são tão prazerosas quanto apreciar ao vivo o sorriso bom de quem amamos, as diferentes maneiras de expressar com o corpo as mais variadas emoções.

Acontece que, por uma fantástica capacidade do amor, nós conseguimos estar próximos mesmo quando não estamos. O sentimento não tem paredes, já notou?

Quem tiver o coração todo desenhado com esquadro e compasso talvez não consiga entender. Para ver o que não está disponível do lado de fora, é preciso conseguir ver do lado de dentro. Esse, seja qual for a distância, é o olhar que faz toda diferença.

Na vizinhança dos vinte anos, um namorado me deu um livro lindo do Richard Bach, autor de “Fernão Capelo Gaivota”, intitulado “Longe é um lugar que não existe”. Um livro fino, pouco texto, e ao mesmo tempo grandioso. Num trecho, o autor faz uma indagação da qual nunca esqueci, algo mais ou menos assim: “(...) se você quer estar com alguém a quem ama, já não está lá?”

A mente é capaz de coisas incríveis, mas, em geral, nós aprendemos a lidar com a vida de uma maneira muito restrita, muito aquém das possibilidades das quais potencialmente dispomos.

Nós nos acostumamos a experimentar os nossos cinco abençoados sentidos como se tudo girasse em torno deles de forma exclusiva. Mas, depois de um tempo, depois de algum caminho percorrido, a gente começa a descobrir que não é só isso.

Por mais distante que seja, nós podemos ir onde o sentimento nos levar. Podemos ir e sentir um conforto imenso ao encontrar o que está lá. Quem está lá.
Ana Jácomo
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Esse texto maravilhoso e muitos outros você encontra aqui:
Fotografia : Benjamim Daniel

7 comentários:

Rose disse...

"Mari":
Também achei este texto maravilhoso! E - interessante! - quando o li, imediatamente lembrei-me de você e de sua história!...
Bom quando alguém tem a capacidade de transformar em poesia o que sentimos e queremos dizer, não?
Ana faz isso como ninguém! Já disse isso a ela!
Um beijo carinhoso!
Rose.

Mel disse...

Não exiete distância para o amor...
É verdadade...
:)
Bjs, bjs

Irmão Sol, Irmã Lua disse...

Lindo texto, Mari!
Lembra mesmo sua história, e, essa linda história, faz de você uma pessoa abençoada.
Fico sem palavras...
"Não há distância para aqueles que se amam", isso de alguma forma me consola.
Beijo do amigo,
Benja.

Anônimo disse...

Belíssimo texto!


Não há mesmo distância entre os corações apaixonados.

No fundo, eles estão sempre no mesmo peito!


Abraços, flores, estrelas..

Ela disse...

"Longe é um lugar que não existe"
É por isto que sempre chego aqui, encontrar você através de teus textos e daqueles que tu selecionas.

a propósito, este é muito bom!

Anônimo disse...

Eu concordo que não há distância para amar. Sentimentos são coisas nas quais a gente está sujeito. O que fazemos com estes sentimentos é que nos torna agentes. Agora, acho que é preciso termos consciência do que é sentimento, do que é relação. Por mais que possamos respirar o amor, existem necessidades diversas, de pele e abraço, de voz e de olhar. São coisas que o ser humano não pode substituir por idéias e sentimentos, que são complementares a estes, e, de certa forma, sempre vão fazer falta, apesar de tudo.

Nem sempre é fácil tornar o amor algo tão libertário e desprendido :) Mas a gente chega lá.

Beijos!

Carol Timm disse...

Mari,

Eu achei lindo esse texto e também me encanta ver como vives tornando teu amor-presente além mar.

Os outros textos da autora são muito bonitos, foi um belo achado esse seu.

Pena não estar vindo tanto a net como antigamente... mas essa correria é passageira. Vou voltar!

Beijos,
Carol